quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Uma pedrada no mar

Parece? ...mas não é!
Haverá alguma guerra que não seja absurda? Até as que travamos connosco próprios o são. Para quê erguer barricadas se a nossa posição relativa é arbitrária? Na verdade, a opinião pública é passível de ser baralhada porque a argumentação pode em si mesma ser sempre paradoxal. Tudo depende do prisma do observador e da sua condição pessoal e social. Por mim vejo que não consigo deixar de ver sempre os dois lados. Ambos perdem razão sempre que respondem...ambos têm razão sempre que se justificam.
Haverá sempre diferendos culturais porque o Homem é resistente à "cultura do outro".
Haverá sempre uma razão invisível para desencadear este desassossego permanente que é a vida. 
Não me apetece falar. 
Também não me apetece sentir, nem decidir, nem participar em nada que não seja a busca da minha própria paz. E por isso  finjo uma pedrada no mar. 
Parece? ... mas não é!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

É bom

É bom habitar na nossa intimidade... é um sentimento que rasga a ausência física que nos atormenta.


domingo, 11 de novembro de 2012

A Guerra


O palhaço Jullietto adormeceu na roulotte do circo em que trabalhara desde sempre. Eram tempos de guerra, daqueles tempos difíceis, que moravam apenas no imaginário dos mais afortunados, como se a guerra fosse uma mera palavra, inventada para torturar a esperança de uma vida melhor. Mas aquele palhaço, era uma personagem real, do circo ambulante, que nos últimos tempos andava em círculos, para evitar os cenários de Guerra.
Naquele fim de tarde, (quando o crepúsculo convida ao retorno de nós mesmos, à laia de balanço pessoal), o palhaço Jullietto espreitou pela janela circular da roulotte do circo que circulava em círculos… não viu o resto da comitiva… sentiu-se mais só do que naquele dia em que disse com toda a graça, uma das suas engraçadas graças mas que ninguém achou graça.Talvez a guerra estivesse ali ao lado, pegadinha à sua pele, pintada de rançosas tintas.
Fechou os olhos e tocou um pequeno balão que estava perdido num bolso coçado do seu casaco riscado. Distraidamente soprou para dentro dele, gotículas de saliva corada como os seus lábios pintados de tintas rançosas.
Soprou um pouco mais e deixou que o balão aumentasse ainda….
Então, o milagre aconteceu: uma brisa silenciosa elevou o balão… e na pontinha do balão o palhaço Jullietto , incrédulo, a sobrevoar o mar.
Havia Guerra em todo lado, menos no coração do palhaço… Foi por isso que ele se tornou leve e partiu para lá do céu azul, que tanto o fascinava…

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Do meu diário incompleto e inacabado


31 de Julho de 2012
Apetece perguntar (parafraseando o Cardoso Pires):
- E agora Maria?
Quantos quilómetros de vida te restam?
Um dia o Chico telefonou-te prometendo voltar a fazê-lo no dia seguinte. Não te disse ele que tinha apenas cerca de 180 km de vida… por isso não te chegou a telefonar. Tu ainda nem apagaste o número dele do teu telefone. Ele morreu, mulher! Encara isso com mais normalidade. Pensavas que a morte só acontece a desconhecidos? Não! Amanhã é dia um de Agosto. Faz dois anos que morreu a tia Ilda. Estava a cento e tal quilómetros da tua vida. Choravas quando a ias visitar. Agora choras porque não a podes visitar… em que ficamos?
Gostavas de ter uma ideia dos quilómetros que tens ainda para percorrer. Assim deixavas tudo organizado para não sentirem muito a tua falta. Arrumavas os teus livros divididos por temas. "Estimem os livros" (escreverias  em papeis, colocando-os dentro de cada volume).
Não sei o que te preocupa mais: se a distância da morte se o caminho que a vida te vai obrigar a fazer para ir ao seu encontro.

Quando te olhas ao espelho perguntas sempre:
- E agora Maria?
 Tinha razão o Cardoso.

domingo, 4 de novembro de 2012

O meu silêncio



O silêncio... o meu silêncio está cheio de ruídos ensurdecedores, de imagens carregadas de estrondos, de cheiros imbuídos de desassossego. Em cada dia procuro um silêncio novo mas falha-me a força para o agarrar...